Nunca é tarde: aos 72 anos, Severina realiza o sonho de estudar

Aprender o bê a bá, juntar as letras e descobrir a infinidade de palavras sempre era um sonho para dona Severina. Era, porque aos 72 anos ela deu o pontapé e vai, pela primeira vez, ouvir seu nome ser chamado por uma professora na lista de alunos EJA – Educação para Jovens e Adultos: Severina Rodrigues da Silva. Vontade nunca lhe faltou, o problema era seu pai que proibia as filhas mulheres de irem para escola. “Meu pai dizia que mulher foi feita para casar e ter filhos”, conta.

Depois de casar, ter um filho e dedicar boa parte da vida à família – como pregava seu pai -, Severina retomou o contato com o universo dos livros graças ao incentivo e apoio da neta. “Durante esse tempo que não sabia ler, senti muita dificuldade e muita vergonha. Chegar em um lugar e não poder ler um contrato, é muito duro. Quando meu marido era vivo, ele resolvia tudo para mim. Agora eu tenho que resolver tudo, apesar de contar muito com a ajuda da minha neta e filho”, conta a pernambucana que ficou viúva em setembro do ano passado.

A ausência do companheiro de tantos anos, a impulsionou a buscar algo novo.  “Estudar para mim está sendo tudo, é um sonho, uma benção. Estou encantada e muito, muito feliz. Já completei uma semana de aula e já estou juntando letras. A professora falou para mim assim: a senhora logo vai estar alfabetizada, foi uma maravilha quando ouvi isso”, comemora.

A neta Beatriz Rocha vibra por fazer parte dessa história de superação da avó. Fez questão de acompanhá-la desde a matrícula até os primeiros passos na escola, que fica bem perto de sua casa. “Quando eu vi meu nome na lista de chamada: Severina Rodrigues da Silva, eu fiquei encantada, por que tudo para mim é novidade. É uma sensação tão boa”, descreve Severina destacando a importância do apoio da neta para esta conquista. “A gente fez tudo por ela, Beatriz conseguiu uma boa pontuação do Enem e estuda Direito com Bolsa de estudo de 100%. Hoje, ela faz isso por mim, me levou no primeiro dia de aula”.

No primeiro dia de aula Beatriz deixou um recado para sua avó em uma das suas redes sociais. “Essa é a Severina, mais conhecida como Dona Nena, minha avó. Ela tem 72 anos e só entrou na escola até ontem para me levar. Hoje, eu a levei no seu primeiro dia de aula. Ela nasceu em Pernambuco, numa cidade pequena, bem roça mesmo, e nunca pôde estudar pois na época seu pai dizia que “mulher só estudava para escrever carta para macho”. Hoje, ela está realizando um sonho muito antigo: aprender o básico. Eu não poderia estar mais emocionada, orgulhosa e com o coração cheio de amor… Boa sorte, vó! No que depender de mim, em breve a senhora será uma universitária, comemora Beatriz.

Dona Severina em seu primeiro dia de aula.

Agência Educa Mais Brasil 

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