Quando nosso trabalho começou, honestamente, não tínhamos nenhuma ideia. Apenas um palpite”, diz Marloes Pomp, chefe de projetos de blockchain do governo da Holanda. Dois anos depois, o departamento responde por cerca de 40 iniciativas e a tecnologia deixou de ser uma aposta. Ministérios e prefeituras abriram departamentos de blockchain a fim de cortar gastos e prazos.
Como o seu escritório coordena esforços?
Tentamos combinar o projeto certo à startup certa, na plataforma de blockchain certa. Integramos gente do governo aos grupos de desenvolvedores. Do contrário, eles podem desenvolver um ótimo protótipo sem utilidade prática. Cobramos contrapartidas de startups: projetos bancados pelo Estado precisam levar a soluções open source.
Num projeto-piloto com blockchain, a província de Noord-Brabant conseguiu reduzir o tempo de liberação de subsídios de 13 semanas para 13 minutos. Quais atividades do governo têm tamanho potencial de evolução?
Várias municipalidades e cidades estão trabalhando para facilitar os subsídios. As pessoas conseguem pegar o dinheiro no mesmo dia, não precisam mais provar coisa nenhuma. Foi fácil implementar porque envolve apenas o governo. Não requer integração. Projetos de logística ou energia são mais demorados, por depender da colaboração entre mais parceiros.
Vocês experimentaram blockchain na última eleição. Pretendem adotar a tecnologia?
Há algumas semanas, fizemos dois experimentos em eleições locais. Um sobre a votação e outro sobre a quantidade de eleitores. Os dois projetos deram certo, mas a aplicação deles é complicada. A Holanda não é o melhor lugar para estrear essa tecnologia. Nosso processo eleitoral é maduro e não sofre questionamentos. Não faz sentido investir em tecnologia e mudar leis para resolver um problema que a gente não tem. Pela mesma razão, nunca adotamos urnas eletrônicas.
Dubai quer ser o primeiro país com serviços públicos 100% integrados a blockchain, por volta de 2020. A Holanda almeja chegar a esse nível algum dia?
Não queremos ser um governo blockchain. Queremos conhecer profundamente a tecnologia e estar entre os pioneiros em algumas áreas, como logística. Mas ser inteiramente digital, para os holandeses, não é um objetivo em si. É uma questão cultural, acho. Aprecio muito a ambição de Dubai. Estamos com eles em vários projetos.
Vejo a Holanda colaborar com vários países, mas não com o Brasil. Onde estão os brasileiros no cenário internacional de blockchain?
Para mim, ainda é um ponto cego. Não tenho certeza. Entrei em contato com o embaixador da Holanda no Brasil para tentar, em breve, alguma colaboração. Por enquanto, vejo muita gente em Cingapura, Dubai, União Europeia, Índia e Estados Unidos. Sei que há muita coisa acontecendo no Japão, na Coreia do Sul, no Brasil. Só não consegui chegar a essa parte do globo ainda.
Fonte: Época negócios.